quinta-feira, 20 de março de 2014

crônica afetiva #2


o que uma pessoa normal (leia-se: uma pessoa não adornada pela monstruosidade de constatar a ausência do que seja a felicidade - que não é INfelicidade, não, só não é essa coisa sem sal e depende, é outra coisa, normalidade, satisfação, talvez, reconhecimento, existência, o escambal), numa manhã de sábado pilhada de roupas sujas, é capaz de sublimar, enquanto lê "a idade da razão", de jean-paul sartre:
eu me sinto encharcado como alguma personagem passional de jean-paul sartre. sabe o que significa passionalidade, não sabe? e em jean-paul sartre? é a coisa gratuita, cara. o sentido pleno. tudo bem que a marcelle fosse passional – era esse o nome da infeliz –, mas é que sinto sempre o sartre a descrevendo como se ela fosse um pedaço de carne, isso só me inspira instintos como o de esfaqueá-la seguidamente, como numa tentativa de acertar o alvo várias vezes, talvez pra alargar o tamanho da ranhura feita pela fúria descontrolada de minhas mãos amoladas de imaginação instintiva e repugnância, pra usar suas palavras próprias. não é o que ocorreria. talvez o descontrole me fizesse errar. um quadro inspirado em pollock, realizado no corpo de marcelle: sangue e formas abstratas realizadas sobre sua pele com um cutelo afiadíssimo. uma performance? marina abramovich riscou com uma navalha a imagem duma estrela em seu abdómen. nunca mais fui o mesmo depois que vi aquilo. é impossível dominar isso que concretiza a imagem, uma imagem composta pelos imediatismos da associação? não. essa é a fuga mais sorrateira. e negar a vontade? lapso linguístico?

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