o
que uma pessoa normal (leia-se: uma pessoa não adornada pela monstruosidade de
constatar a ausência do que seja a felicidade - que não é INfelicidade, não, só
não é essa coisa sem sal e depende, é outra coisa, normalidade, satisfação,
talvez, reconhecimento, existência, o escambal), numa manhã de sábado pilhada
de roupas sujas, é capaz de sublimar, enquanto lê "a idade da razão",
de jean-paul sartre:
eu
me sinto encharcado como alguma personagem passional de jean-paul sartre. sabe
o que significa passionalidade, não sabe? e em jean-paul sartre? é a coisa
gratuita, cara. o sentido pleno. tudo bem que a marcelle fosse passional – era
esse o nome da infeliz –, mas é que sinto sempre o sartre a descrevendo como se
ela fosse um pedaço de carne, isso só me inspira instintos como o de
esfaqueá-la seguidamente, como numa tentativa de acertar o alvo várias vezes,
talvez pra alargar o tamanho da ranhura feita pela fúria descontrolada de
minhas mãos amoladas de imaginação instintiva e repugnância, pra usar suas
palavras próprias. não é o que ocorreria. talvez o descontrole me fizesse
errar. um quadro inspirado em pollock, realizado no corpo de marcelle: sangue e
formas abstratas realizadas sobre sua pele com um cutelo afiadíssimo. uma
performance? marina abramovich riscou com uma navalha a imagem duma estrela em
seu abdómen. nunca mais fui o mesmo depois que vi aquilo. é impossível dominar
isso que concretiza a imagem, uma imagem composta pelos imediatismos da
associação? não. essa é a fuga mais sorrateira. e negar a vontade? lapso
linguístico?
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